Uma reflexão do Pastor Jarbas Hoffimann, sobre as músicas que fazem sucesso hoje (se é que podemos chamar isso de música)
Busquei
em um site especializado em música pelas músicas que mais estejam fazendo
“sucesso” no momento. Uma busca rápida. E num deles tinha o “top” da semana,
tanto das músicas quanto dos artistas.
O
primeiro top não poderia deixar de ser música de novela da Globo: “Eu quero tchu, eu quero tcha”. Uma música que diz tanto
quanto uma propaganda antiga: “a primeira faz tchum, a segunda faz tchã e tchã,
tchã, tchã, tchã...” Aliás,
aquela propaganda diz mais que a “música”.
Parece
que hoje em dia não se sabe mais fazer música sem a contaminação que começou
escrachadamente no Funk, mas que já estava também nos Tches (porcaria em todos
os sentidos: sexo, violência, péssimos cantores, etc...) e que tende a
contaminar tudo. (Cabe uma explicação pra quem nunca foi ao sul brasileiro: os
Tches são tipo o sertanejo universitário, ou seria o “gaúcho universitário” que
notadamente só cantam músicas de duplo sentido. Com raras exceções.)
Não
que o funk seja mau em si mesmo. Conheço muitos funks muito bons de ouvir e
cantar, que falam de amor pelas pessoas, de amizade, de amor pelo local onde se
nasceu... “Eu só quero é ser feliz...”
Mas
a maioria das “músicas” de hoje (as que fazem sucesso artificial) deixam todo o
movimento feminino e feminista abaixo do chinelo. A mulher (ou a novinha) deixa
de ser uma pessoa e passa a ser uma cachorra, um pedaço de filé, uma melancia,
com óbvias conotações... Aí se pode até entender a “marcha das vadias”. Que
pode até ser um movimento com assuntos importantes, mas com um nome e uma
demonstração que dão a entender outras coisas... Ou agora é legal ser chamada
de vadia?
Mas
voltando à música “sertaneja” que já não é sertaneja há muito tempo. Parece que
os cantores, além de cantar letras que são verdadeiras pérolas: “Cheguei
na (sic.) balada, doidinho pra biritar, a galera tá no clima, todo mundo quer
dançar, uma mina me chamou, e disse ‘faz um tchu tcha tcha’, perguntei o que é
isso, ela disse ‘eu vou te ensinar. É uma dança sensual’...” Outra maravilha da música: “O
problema é que eu bebo e apronto, mas depois não lembro de nada. Tudo bem, não
faz mal, a gente bota a culpa na cachaça!”.
Se
você tem carro, tá garantido: “Agora eu to mudado, o meu bolso está cheio.
Mulherada atrás, eu quero ouvir cada vez mais. Vem ni mim Dodge RAM, Focker
duzentos e oitenta, a mulherada louca. ...”. Mesmo que não seja “um
carrão”: “De Land Rover é fácil é mole é lindo... Quero ver
jogar a gata no fundo da fiorino.” E mesmo que não tenha carro e esteja
quebrado, “Sou simples, mas eu te garanto. Eu sei fazer o lê lê
lê.” (Quem lê entenda
o lê lê lê).
Parece
que as mulheres (ou piriguetes, porque mulher mesmo é
diferente) estão aí apenas para diversão dos donos de carrões e homens com
dinheiro. É menosprezar muito a mulher. Isto é triste. Muito triste. E mulher
que fica com homem apenas porque ele pode pagar suas contas é prostituta, que
recebe pelo serviço feito...
Outra
característica da “música” atual parece ser a falta de autoestima dos cantores.
O cantor sabe tanto que a música é ruim e vai sumir logo, que canta o próprio
nome várias vezes no meio da letra. Assim ele tenta garantir um pouquinho da
fama, pra tentar emplacar outro “sucesso”. Não consigo imagina nosso rei cantando
“Roberto Carlos e você...” Ou “Raul Seixas e você”, etc...
Resumindo:
quer fazer sucesso. Arrume uma letra que seja facilmente “arquivada” por
pessoas que consumiram muita bebida. Fale de beber até cair. Fale das mulheres
fúteis e fáceis e seu desejo por dinheiro e carrões. Cante seu nome umas
duzentas vezes por música. Boa parte do sucesso já estará garantido...
E
pensar que há pouco tempo havia pessoas que faziam música mesmo. O rock tinha
um caráter político, outros divertidos, outros falavam de amor. A música
sertaneja contava histórias e outras eram pura dor de cotovelo de um caboclo
apaixonado, mas que respeitava sua amada. Tinha uma tal Legião Urbana que fazia
o povo pensar, com letras com centenas de palavras e nenhuma vez precisou de
“tchu, tcha, tcha”. Um Engenheiros do Havaí que lembrava a “guaiaca nua” de
alguém meio perdido. Ou ainda aquele astronauta que lembrava que “a lua
inteira, agora é um manto negro”. E tinha até um amante à moda antiga,
“daqueles que ainda manda flores”, em vez de pegar atrás de um banheiro: “Vai
no (sic) banheiro pra gente se beijar. Bem lá no escurinho pra ninguém
desconfiar. Cara de santa mais não me engana não. É hoje que eu te pego. E você
não escapa não”
Pelo
menos algo de bom há nessas “músicas”. Para citar um exemplo: “Ai
se eu te pego” nem
aparece mais nas paradas, ou melhor, está na posição 52. E olha o “sucesso” que
fez recentemente. Vai pra mesma vala do bonde do tigrão. E o pior é que o
cantor desta pérola do cancioneiro nacional é um músico excelente que já demonstrava
imenso talento ainda na época do Tradição. Infelizmente, se rendeu ao que dá
dinheiro. Vender bebida e sexo fácil...
Felizmente,
ainda existe gente remando contra a maré. Paula Fernandes é um dos novos
exemplos de música boa, legal de ouvir e que não precisa apelar pra baixaria
pra fazer sucesso. Estas músicas dela serão cantadas daqui a 20 ou 30 anos
ainda. Assim como ainda hoje cantamos as músicas da Legião, Titãs, Roberto
Carlos, Sérgio Reis, Amado Batista (é brega, mas é um cavalheiro), entre tantos
outros. Acho que esta onda de sertanejo universitário deveria voltar pro pré,
pra aprender a respeitar o português e as mulheres.
Rev. Jarbas Hoffimann
Pastor
da CEL Castelo Forte de Nova Venécia, Espírito Santo.